segunda-feira, 19 de agosto de 2024

No Sutil Abraço do Amanhecer

Nasce mais um divino dia  

O orvalho imita as lágrimas da mãe noite  

Estou no aguardo do motorista que me tirará daqui para me deixar ali, por aí  

O sol tímido estende seus raios por entre as nuvens, como se fossem mãos querendo me tocar  

No toque sutil, inicio mais esta útil e inspiradora semana  

As flores roxas das azaleias e o rubro flamboyant mostram que, mesmo não sendo primavera, há tempo para tudo  

Neste tempo, em qualquer lugar, estarei a me lembrar  

Que as lembranças amenizem os sentimentos, os sentidos e as sensações  

Neste vai-e-vem, entre um tic-tac e um tum-tum, lá está.

Adilson Di - @AdilsonDi

quarta-feira, 22 de maio de 2024

Voos das lembranças

Deixaste algo. Um olhar, um tom, um som, um toque, que estão ali nas caixinhas das brumas do tempo, mas que sutilmente, volta e meia, alçam voo e bailam serelepes como borboletas coloridas a encantar. 

Quando as borboletas voam, lembro de Eunice tecendo reminiscências ao sopé do mesmo ouvido em que um anjo estava a sussurrar. 

É, o tempo! O tempo pode ser bom, rápido, lento, voraz. O tempo traz entendimento aos desentendimentos, compreensão às incompreensões. Mas jamais apaga o que platonicamente está armazenado no mundo das ideias.

Perdão, desculpas, gratidão, e o desejo de que tudo seja sempre recompensado.

Obrigado por vires sem saber ou imaginar. Obrigado por sutilmente trazeres à tona a suavidade da pétala branca, que ruborizou e deu cor àquela bela e enigmática obra que está ali naquele cantinho bom da memória 🙏🏽🙏🏽🙏🏽

@AdilsonDi

segunda-feira, 22 de abril de 2024

Março 2025 - Dia Mundial da Diversidade Cultural para o Diálogo e Desenvolvimento



O mês de maio de 2024 trouxe profundas transformações para todos os gaúchos. As consequências foram sentidas por todos, direta ou indiretamente. As chuvas intensas e inundações afetaram a agricultura, pecuária, logística, indústria, comércio, serviços e políticas públicas. Danos e perdas resultarão em restrições de produtos e aumento de preços. Milhares de gaúchos enfrentarão recomeços, migrações, desemprego e mudanças drásticas em seu estilo de vida. Nossa cultura, história e patrimônio afetivo foram abalados. A recuperação será lenta, mas precisamos de resiliência, empatia, união e paciência. Que nossos irmãos gaúchos encontrem força para superar essa revolução. O futuro é incerto, mas podemos contribuir com atitudes em prol do desenvolvimento sustentável. Neste Dia Mundial da Diversidade Cultural para o Diálogo e Desenvolvimento, instituído pela ONU/UNESCO, busquemos prosperidade, desenvolvimento sustentável e coexistência pacífica1.2 🌎🌱🤝



sexta-feira, 22 de dezembro de 2023

O Amor, a Essência do Natal


O amor é como uma constante, uma força que ultrapassa limites e desafia as fronteiras convencionais do sentimento. O amor é platônico, incondicional e transcende o tempo e o espaço. É uma projeção idealizada do que há de mais lindo e habita em meu ser de maneira etérea e intangível.

Talvez, esse amor se assemelhe ao conceito de amor de Spinoza, onde Deus é compreendido como a própria natureza, uma entidade que abrange tudo, inclusive os sentimentos humanos, enquadrando-se como parte integrante da essência universal. É uma expressão genuína e intrínseca ao fluxo natural dos sentidos, uma manifestação pura que flui nas linhas que sustentam a teia multidirecional de nossa realidade.


Assim como Spinoza via Deus como algo imanente, presente em tudo, esse amor está entrelaçado em minha existência, não como algo separado, mas como parte essencial de quem sou. É uma ligação que não se restringe às convenções mundanas, mas se alinha com a compreensão de que o amor é uma expressão intrínseca à própria natureza do ser senciente, parte integrante desse todo maior que nos envolve.


À medida que celebramos esta temporada de paz e alegria, desejo que nossos corações se encham de tudo aquilo que será emanado pelas pessoas ao redor do mundo. Que o espírito do Natal nos inspire a manifestar o verdadeiro significado do amor, seguindo o exemplo de Jesus Cristo, que se materializou na personificação desse amor em sua essência mais pura.


Que neste Natal possamos refletir sobre o amor altruísta e incondicional que Ele demonstrou em sua vinda, buscando espalhar gentileza, compaixão e união entre todos. Que a lembrança de seu nascimento nos inspire a estender a mão ao próximo, compartilhar e confortar aqueles que precisam.


Que esse amor natural, gentil, desprendido, platônico, empático e altruísta, que está em todos e em tudo, em seu conceito mais amplo, como proposto por Spinoza, encontre eco no amor exemplificado por Jesus, tornando este Natal uma celebração verdadeira e significativa.


Que os sentimentos e sentidos mais puros invadam teu ser, não apenas durante esta temporada festiva, mas durante todo o ano vindouro.


Um Feliz Natal, onde o amor seja o maior presente que possamos compartilhar uns com os outros.


Adilson Di e Família

sábado, 23 de setembro de 2023

Tessitura da Vida: Entre Conspiração e Realização

Há quem se enrede nas teias complexas da teoria da conspiração, enxergando sombras e tramas obscuras em cada esquina. Eu, por outro lado, acredito na teoria da inspiração e transpiração. A vida, em sua essência, não é uma questão de esperar por um milagre celestial que nos brinde com riquezas e sucesso sem esforço. Muitos passam suas existências clamando ao universo por uma única oportunidade, ignorando que essa chance está diante deles, ao alcance de suas mãos, a todo momento. No entanto, é mais cômodo ancorar-se em pensamentos divinos, esperando por intervenções celestiais, do que encarar a realidade e trabalhar incansavelmente para alcançar os objetivos. A verdadeira oportunidade se manifesta na fusão da inspiração que nos move e na transpiração de nosso empenho diário, unindo sonhos ao suor, moldando nosso destino com esforço genuíno e persistência. É nesse equilíbrio entre o sonho e a ação que as verdadeiras portas se abrem, e a vida se revela plena de possibilidades para aqueles que têm a coragem de agir.


Neste intrincado tecido da vida, os fios das crenças são entrelaçados de maneiras diferentes para cada indivíduo. Alguns fios são escuros e emaranhados, presos nas armadilhas das teorias da conspiração, onde sombras e tramas obscuras parecem espreitar a cada esquina. Outros, como eu, tecem fios de inspiração e transpiração em nossa compreensão da vida. Acreditamos que a verdadeira essência da vida não reside em esperar passivamente por um milagre celestial que nos brinde com riqueza e sucesso sem esforço.


Muitos passam suas vidas implorando ao cosmos por uma única oportunidade, sem perceber que essa chance está sempre presente, ao alcance das mãos, a todo momento. No entanto, é muito mais fácil se ancorar em pensamentos divinos, esperando por uma intervenção celestial, do que enfrentar a realidade e trabalhar incansavelmente em direção aos nossos objetivos. A verdadeira oportunidade emerge da fusão da inspiração que nos impulsiona e do suor de nossos esforços diários, unindo sonhos ao trabalho árduo, moldando nosso destino com esforço genuíno e persistência.


É nesse delicado equilíbrio entre sonhos e ações que as verdadeiras portas se abrem, revelando uma vida repleta de possibilidades para aqueles corajosos o suficiente para agir. À medida que navegamos nessa complexa tecelagem, lembremos que, embora as conspirações possam atrair, é no domínio da inspiração e do trabalho árduo que verdadeiramente tecemos o tecido de nossas vidas.


@AdilsonDi

terça-feira, 30 de maio de 2023

NADA É POR ACASO II

No dia 30 de abril, fui à missa das 10 horas em uma capela local. Na ocasião, um padre novo celebrou uma missa diferente, durante a qual apresentou o calendário católico para os meses de maio e junho. Entre as atividades destacadas, estava a prática de rezar o terço ou o Rosário em novenas pela comunidade.

Embora eu não costume participar com frequência de missas e outras atividades da igreja, decidi comparecer naquela manhã em busca de conforto espiritual e para me sentir conectado com minha mãe e outros entes queridos que já partiram. Também tive a oportunidade de confraternizar com a comunidade presente.

Ao final da celebração, meu amigo Emerson — responsável pela harmonia musical da missa — informou ao padre que eu faria aniversário no dia seguinte. Todos os presentes então me dedicaram orações e vibrações positivas, um gesto que foi profundamente emocionante e significativo para mim.

Sou responsável pela zeladoria de uma casa que foi de meus pais, onde minha mãe esteve até o fim de seus dias. Embora ela tenha partido há bastante tempo, minha irmã ainda mantém muitas de suas coisas guardadas, como roupas, objetos pessoais e várias imagens de santos. Em uma conversa recente, nós dois observamos uma escultura em gesso de uma santa e pensamos em colocá-la em uma pequena capela no jardim da casa. Após essa conversa, minha irmã se despediu e foi embora.

Na sexta-feira, 12 de maio, acordei com o desejo de fazer uma longa oração e rezar um terço. Pouco tempo depois, minha irmã me ligou avisando que estava a caminho da minha casa, trazendo a capelinha que havia comprado no trajeto. Recebi a capelinha, ainda embalada, e a guardei sem mexer nela naquele dia.

No sábado, 13 de maio, contratei uma pessoa para cortar a grama e cuidar do jardim. Quando ele terminou o serviço, instalei a capelinha no pátio da frente e coloquei dentro dela a imagem da santa que havíamos comentado, junto com uma imagem de São Jorge. Tirei algumas fotos para enviar à minha irmã. Eram exatamente 11 horas e 56 minutos quando postei as fotos no grupo da família no WhatsApp. Ela elogiou as fotos, e outros parentes também reagiram com carinho.

No domingo, 14 de maio, após celebrar o Dia das Mães com a família do meu irmão, voltei para casa e comecei a navegar pelo Facebook. Foi então que vi uma homenagem a Nossa Senhora de Fátima. Ao ler a publicação, percebi que o dia 13 de maio é a data comemorativa dedicada a ela. Na mesma hora, conferi a foto da imagem da santa que eu havia colocado na capelinha e me dei conta, com um misto de surpresa e emoção, de que a instalação havia acontecido justamente no dia de sua celebração.

Fiquei profundamente tocado por essa coincidência — ou talvez, sinal — que trouxe uma sensação de conexão espiritual e significado maior. Senti que havia prestado uma homenagem sincera à santa, mesmo sem estar consciente da data.

Essa experiência me levou a refletir sobre como, às vezes, somos guiados por uma força maior. Foi incrível perceber que, de forma completamente espontânea, realizei um gesto tão significativo. Acredito que minha mãe — uma mulher muito religiosa e devota de Nossa Senhora de Fátima — possa ter me inspirado a viver essa experiência. Talvez tenha sido ela quem me guiou até a missa no dia 30, ou quem me impulsionou a seguir aquele calendário apresentado pelo padre.

As orações e boas vibrações que recebi naquela missa também parecem ter feito parte desse caminho. Tudo isso me mostrou o quanto é importante estarmos abertos às surpresas da vida e como é essencial confiar na força que nos guia e protege. Mesmo quando não sabemos qual é o nosso destino, podemos confiar que estamos sendo conduzidos por algo maior — e que, muitas vezes, a ajuda vem de onde menos esperamos.

Ao rever a foto da santa na capelinha, senti como se ela estivesse ali, com as mãos estendidas em sinal de bênção, irradiando uma luz serena e uma paz interior incomparável. A imagem me levou de volta à infância, quando minha mãe me levava à igreja para rezarmos juntos. Nossa Senhora de Fátima era uma de suas santas favoritas, e ela sempre compartilhava histórias emocionantes sobre os milagres atribuídos a ela.

Tomado por uma onda de serenidade e gratidão, percebi como é valioso manter a fé viva, mesmo diante das dificuldades da vida. Aquela imagem me lembrou que, aconteça o que acontecer, a fé sempre será um guia e um consolo.

Por isso, decidi compartilhar essa experiência com vocês. Espero que ela possa tocar o coração de cada leitor e renovar a fé em dias melhores. Que Nossa Senhora de Fátima continue nos abençoando e nos mostrando que não estamos sozinhos, mesmo nos momentos em que tudo parece incerto.

Nossa Senhora de Fátima, rogai por nós!

segunda-feira, 15 de maio de 2023

NADA É POR ACASO I

Há momentos na vida que nos fazem pensar se são apenas coincidências, acaso, destino, sincronicidade ou até mesmo milagres. Algumas coisas acontecem de forma tão inusitada que nos deixam com a sensação de que há algo maior nos guiando.

Minha mãe sempre foi uma mulher católica fervorosa e tinha uma devoção profunda a Nossa Senhora, seja ela qual fosse o nome — dos Navegantes, Aparecida, Lourdes, Caravaggio, enfim, todas as suas formas a tocavam de maneira especial. Mas, em determinado momento de sua vida, ela passou por uma crise de fé e se afastou da Igreja. Durante esse período, buscou respostas em outra espiritualidade e acabou se dedicando ao espiritismo, já que possuía uma sensibilidade que alguns até chamariam de mediunidade. Eu nasci nesse meio, e foi a orientadora espiritual dela quem acabou se tornando minha madrinha.

Ela ficou distante da Igreja até eu completar cinco anos e meus irmãos, 14, 15 e 16. Foi um período muito difícil. Minha mãe, que sempre foi nosso apoio, começou a sofrer de graves problemas nervosos, o que a levou a ser internada em uma clínica psiquiátrica. Tudo começou quando ela se trancou em um quarto por dias, rasgando roupas e falando sozinha em uma língua que nem ela mesma entendia. Meu pai, preocupado, pediu ajuda ao irmão gêmeo de minha mãe, e acabou que ela foi internada.

Com todos estudando e trabalhando, meu pai chamou a irmã mais nova de minha mãe para cuidar de nós enquanto ela estava internada. A situação não foi fácil, pois minha tia, uma jovem prostituta que trabalhava no porto da cidade, tinha muitos vícios e não era exatamente uma boa influência para nós. Ela tinha um vocabulário bastante vulgar e, em suas conversas, sempre falava de maneira crua sobre suas "aventuras". Durante esse tempo, meus irmãos começaram a fumar, algo que carregaram por muitos anos.

Naquela época, a medicina tratava pessoas com depressão de forma muito dura, quase desumana. Usavam métodos como eletrochoques, amarras e contenção física, que, infelizmente, causavam danos aos pacientes. Minha mãe sofreu muito lá e, como resultado, perdeu parte de sua mobilidade.

Enquanto ela enfrentava essa situação, nós também estávamos lidando com nossa própria forma de sofrimento. A falta dela em casa e a influência da nossa tia causaram muitos conflitos. Meus irmãos começaram a se rebelar e, como uma "brincadeira", começaram a me agredir. Houve uma vez em que eu, para fugir, me escondi em um velho galpão de madeira nos fundos da casa, onde, por um tempo, fui seguro entre pilhas de caixas e pedaços de metal enferrujado. A situação ficou tensa, e quando meu irmão me encontrou, puxou-me com força. Na queda, acabei ficando preso entre as latas enferrujadas. Embora ele tenha tentado amenizar, o ferimento infeccionou e fiquei semanas com dor.

Com saudades e muito preocupado, comecei a perguntar demais sobre minha mãe. Isso levou meu pai a me levar para visitá-la no hospital. Chegando lá, o ambiente me assustou, parecia um lugar sombrio, com pessoas que pareciam zumbis, com olhares perdidos e falas desconexas. Quando finalmente pude vê-la, senti um medo inexplicável, mas algo na expressão dela mudou assim que percebeu o ferimento na minha cintura. Aquilo foi o gatilho para algo profundo dentro dela: ao ver que seu filho pequeno estava sendo maltratado, ela sentiu a urgência de se recuperar e voltar para casa para cuidar de nós. Ela ficou muito preocupada, e naquele momento, entendeu que sua missão de mãe precisava ser retomada.

Após algum tempo, minha mãe recebeu alta. Ao voltar para casa, algo havia mudado profundamente nela. Ela estava convertida novamente ao catolicismo e contou que, enquanto orava por nós e pela minha cura, teve uma visão de Nossa Senhora. A mensagem era clara: ela deveria se curar e voltar para sua família. A partir daquele momento, ela se entregou de corpo e alma à caridade e ao trabalho na construção de uma igreja no nosso bairro. Junto com outras mulheres, ela se uniu para levantar um pequeno galpão, que serviria como igreja e posto de saúde, para que a comunidade pudesse se reunir para orações e apoio. Com muito esforço e solidariedade, elas conseguiram construir uma capela, onde até hoje são celebradas missas.

Minha mãe também não perdeu sua sensibilidade especial. Sempre dizia que sabia de certas coisas porque um "passarinho azul" lhe contava. Ela previu muitos acontecimentos ao longo da sua vida, mas nunca deixou de cuidar de seus filhos, netos e da comunidade que ela ajudou a formar.

O legado de minha mãe, Dona Maria, foi muito mais do que o trabalho na construção da igreja. Ela nos ensinou o valor da educação, da empatia, da resignação e, acima de tudo, o poder do amor ao próximo.