terça-feira, 19 de janeiro de 2021

Só queria, mas não posso

Só queria sair por aí, sem destino, contemplando o ar, o sol, o mar, a montanha, a natureza, sem precisar voltar e nem dar satisfação da minha vida para ninguém. Mas, antes de tomar qualquer atitude intempestiva, é preciso entender as consequências de meus atos, tanto para o meu futuro quanto para o das pessoas ao meu redor.

Os destinos estão todos ali, a poucos quilômetros de distância, mas, para dar o primeiro passo em busca do prazer imediato e temporário, é preciso respeitar os resultados das minhas escolhas até o momento. A minha liberdade vai até onde começa a liberdade dos outros.

Neste mundo egoísta, nunca seremos prioridade para as pessoas, mas precisamos estar sempre tentando agradar os outros, pois, do contrário, causamos desconforto alheio, mesmo que não façamos nada. Aliás, nosso silêncio e aquietamento incomodam ainda mais aqueles que nos cercam.

Se trabalho, preciso respeitar a complexa rede de pessoas conectadas à minha atividade. O mesmo vale para quando coordeno qualquer projeto, faço parte de uma família, de um grupo, e assim por diante. Geralmente, somos essenciais, mas também descartáveis. Ninguém é insubstituível, e, na primeira oportunidade, somos trocados pelo novo, pelo desconhecido, que oferece mais possibilidades de mudança.

Então, se somos dispensáveis, por que precisamos nos apegar, nos dedicar e abdicar da nossa liberdade em nome do bem-estar alheio? Deixamos de usufruir dos nossos proventos para compartilhar uma infraestrutura que ficará no tempo e no espaço quando não formos mais necessários. Abrimos mão de estar com amigos, em festas, viagens, de conhecer novos lugares ou de simplesmente não fazer nada e estar em lugar algum.

Os grandes mestres afirmam que toda materialidade, apego, ego, nos impedem de alcançar a iluminação. Nesse sentido, acredito que nossa condição humana não tem brilho, não tem energia; ela nos apaga.

Eu quero, eu preciso, eu gostaria nos conduzem a essa condição nebulosa da vida, ainda mais quando se trata de saciar, além das minhas necessidades, as dos outros que estão conectados à minha órbita. Nosso fardo já é pesado, imagine quando carregamos outros tantos sobre nossas costas.

É preciso muito cuidado nas escolhas de vida, pois carregamos conosco tudo o que decidimos fazer aos outros. E, em geral, a recíproca não será verdadeira, pois as pessoas não farão o mesmo por você. Nunca te ajudarão a carregar seu fardo, nem serão gratas pelo tempo que você dedicou a elas.

Enquanto puder, fuja de fazer aos outros o que eles não farão por você. E, sempre que possível, mantenha-se desapegado, livre e feliz, pois, depois que você abdica de si mesmo para cuidar dos outros, é um caminho sem volta. Ele cessará apenas no momento em que alguém partir.

Namastê.

@AdilsonDi

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