sábado, 23 de maio de 2020

CITRUS TÂNCIAS

As circunstâncias do destino nos surpreendem constantemente ao longo da vida. Quando imaginaríamos que encontros fortuitos poderiam nos conectar a reminiscências do passado de forma tão subliminar? Num instante, estamos no plano real; de súbito, através de uma simples interconexão, podemos viajar para planos nunca antes imaginados.

Estamos constantemente nos conectando com pessoas de diferentes origens e histórias. Na maioria das vezes, essas conexões são fugazes, mais uma pessoa a passar por nossas vidas. No entanto, há aquelas que se destacam, que chegam e, de repente, nos remetem a percepções inesperadas. Elas abrem um túnel do tempo que nos faz tentar lembrar de onde as conhecemos, qual o seu nome, de onde vêm, onde estudaram, com quem andaram. E quando falhamos em nossas elucubrações, nossa mente se inquieta e começa a vagar por lembranças que jaziam no arquivo do esquecimento.

Augusto Cury diz que não há uma memória "real" do passado. Ele afirma que reconstruímos nossas experiências passadas interpretativamente, a partir da leitura multifocal da nossa história intrapsíquica. Isso mesmo, termos complicados, mas, em resumo, ele explica que somos capazes de reconstruir o passado apenas ao reunir fragmentos da história que, por algum motivo, ainda permanecem em nossa memória. Geralmente, esses fragmentos vêm de experiências negativas, que deixaram cicatrizes em nosso eu. Talvez seja esse o caso, mas é certo que a curiosidade se intensifica cada vez mais quando tentamos descobrir a origem de alguém que acabamos de conhecer, sem sucesso.

Essa situação já aconteceu incontáveis vezes comigo. O impulso de descobrir a origem daquela pessoa na minha memória geralmente surge com indivíduos de pouco ou quase nenhum convívio social — como aquela que nos cumprimentou com um simples "oi" em um dia, ou aquela com quem brincamos de gangorra em outro, ou até mesmo com quem compartilhamos uma confraternização em algum lugar qualquer. No entanto, com aquelas pessoas que, teoricamente, deveriam deixar um impacto maior em nossa memória, a sensação é radicalmente diferente. Em vez de um simples despertar de lapsos temporais, o que acontece é uma atração magnética irresistível, que apaga qualquer lembrança do passado. O encontro, à primeira vista, torna-se um êxtase tão profundo que se torna impossível pensar em qualquer outra coisa.

Em algum lugar, em algum momento — seja numa mesa de bar, em um evento popular ou em qualquer outro cenário —, pode surgir aquela pessoa que vai nos fazer perguntar: quem é essa pessoa? Mas não de forma objetiva, e sim de um modo mais amplo, com um ar de admiração e êxtase, criando uma afeição instantânea no exato momento em que a vemos pela primeira vez.








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