Luto! A esperança morreu.

Quando tudo parece que esta perdido, quando não se tem mais rumo a tomar, e é só sentar esperando o fim chegar, eis que o destino muda radicalmente o sentido das coisas, e como num passe de mágica, larga em nossa frente a velha caixa de pandora, que ao longo dos milênios passou pelas mãos dos mais diversos personagens da história, fazendo com que a abramos e percebamos que ali só nos resta a esperança.

Sentado num quarto humilde, sem janelas para a rua, os pensamentos passam rápidos, assim como a vida lá fora. A televisão ligada erradia notícias de enchentes, mortes, crises financeiras internacionais, violência e mais violência, e nosso coração ali, tentando encontrar algumas das virtudes que se escondem em algum lugar. Perdemos entes muito queridos, não temos o emprego de nossos sonhos, nossos amigos se vão, e a “solitude” se torna nossa companhia inseparável.

A modernidade da internet é nosso único laço com o mundo exterior, e ali, escondido atrás da tela, conversamos com alienígenas de outros mundos, como outras formas de pensar das nossas, e mesmo assim, ainda temos conosco a eterna esperança de dias melhores.

Maldito destino, que ao invés de nos deixar quietos, insiste em mudar os rumos de nossas vidas, fazendo-nos acreditar que tudo pode ser diferente. Larga em nossa frente, aquela tal caixinha, que circula de mãos em mãos desde o início dos tempos, e nos conta que dentro dela esta tudo que sempre sonhamos, como o amor, a alegria, dias melhores e todas as outras coisas.

A forma desta caixinha é esquisita, pois ela tem a forma humana, ela tem aparência de uma mulher alta, esguia, de pele alva, olhos azuis da cor do céu, um perfume e sabor doce, inteligente, sensível, charmosa, e uma libido inigualável. A caixa chega sorrateiramente, e aos poucos vai tomando conta do nosso ser, com palavras suaves vai nos conquistando, e quando percebemos estamos totalmente envolto por seus braços.

Mas a caixa vai penetrando cada vez mais em seus sentimentos, vai procurando preencher todas as lacunas existentes, não deixa que nada passe desapercebido, todo espaço que estava vazio de amor, afeição, carinho, alegria, e também de esperança, vai sendo tomado, e quando percebemos estamos lotados de tudo que sempre sonhamos. Depois de preencher internamente, a caixa vem querendo preencher o nosso exterior, as coisas que nos circundam, e muito astutamente, lhe apresenta outro mundo, um mundo de sonhos, com viagens, castelos, esculturas, e outras belezas, no qual você também tem muita afeição, mas que não é sua prioridade. Para finalizar a conquista a Caixa começa a tomar conta do seu circulo de amizades, do seu trabalho, da sua rotina, da sua forma de pensar e agir e até de sua família. Pronto! Você está totalmente envolto em seus diversos braços, que como raízes penetraram em você fixando-se de maneira praticamente é impossível de se desvencilhar.

Quando chega este ponto, é hora e abrir-mos a Caixa e ver qual é a cara da Esperança, aquela que sempre é dita, como a última que morre, e a Caixa, vaidosa como somente ela poderia ser, se abre para você, e aos poucos vai se mostrando internamente, e de súbito sai um mal cheiro, que aos poucos vai impreguinando o ambiente, você logo já começa a imaginar o que de pior está por vir, e como é de se esperar, começa a passar na frente de seus olhos, uma vida inteira de decepções, angústias, medos, tristezas, e a certeza de que o pior ainda está por vir. Aquela Caixa de forma angelical, começa a sofrer uma mutação transgênica, que vai tomando a forma semelhante a Medusa da Mitologia Grega, no qual seus cabelos se transformam em cobras, sua língua uma espada, seus olhos lançam fogo e assim por diante, e ai começam a sair outros monstros de lá, como o preconceito, o desdém, a arrogância, a prepotência, entre outros, mas o mais fulminante de todos, que neste momento irei chamar de transmutacionalidade (ato de transferir aos outros nossas responsabilidades, e colocar na boca dos outros, palavras que não foram ditas, nem pensadas).

Após a saída de todas as coisas ruins, estamos ansiosos de que a esperança surja esplendida de dentro da caixa, porem ela não sai, e curiosos entramos de vez dentro da caixa, tentando encontrar, e quando chegamos ao fundo, vemos um monte de pele, ossos e cabelos amontoadas, com uma foto ao lado, no qual percebemos que a Caixa alem de ter matado a esperança, também roubou suas feições e sua virtude, deixando o mundo sem a tão sonhada esperança.

Ficamos no mundo a vagar, sem expectativa de algo encontrar. Rostos, corpos e mentes se sucedem, e nossas feições tornam-se novamente amargas, e a Caixa nos deixa suas raízes profundas, e sai em busca de novos seres humanos para destruir seus sonhos e expectativas.

Resultado de nosso encontro, nada! Não sobrou nada em que acreditar, somente a certeza de que os dias rumam para seu fim.

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